Há um programa que predomina nos modos de tocar um violão, ou seja, o pinçar das cordas produzindo alturas perceptíveis e o pressionar das cordas modulando as alturas produzidas. Chama-se frequentemente tal programa de técnica tradicional e aquilo que escapa dessa lógica de técnica estendida ou expandida (Lunn 2010, da Silva 2013, Vishnick 2014, Fernandes 2019). Entretanto, um violão pode muito mais do esse programa e a relação binária entre técnica tradicional e técnica estendida se mostrou problemática. Problemática, pois se pressupõe haver um núcleo de técnica estável de onde se deduzirão outras formas de abordar o instrumento. Entretanto, o violão é um fenômeno múltiplo e complexo e se apresenta das mais variadas formas que se transformam constantemente ao longo do fluxo histórico. Na denominada música contemporânea de concerto, é possível encontrar diversos exemplos de abordagem dos instrumentos que redistribuem os corpos a cada música, formando outras lógicas. Ora há gestos percussivos, ora se aliam a outros artefatos técnicos, ora modificam a estrutura do instrumento, ora se mastigam as cordas, etc. O programa que se tornou hegemônico é somente uma possibilidade de efetuação. Essa pesquisa propõe compreender os modos de existência do violão no território da denominada música contemporânea de concerto, que escapam das formas operacionais hegemônicas do instrumento para problematizar, repensar, performar e criar dispositivos corporais e suas formas de expressão.